A Cidade Sustentável já Existe: é na Itália

SUSTENTABILIDADE / Ilaria D’Ambrósio – 05 de janeiro de 2015

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Cassinetta Lugagnano é uma das poucas, se não a única, cidade italiana a implementar um planejamento estratégico sustentável. Com pouco mais de 1.800 habitantes, seu território se expande ao longo do canal Naviglio Grande, na região metropolitana de Milão (cerca de 26 quilômetros ao sul de Milão) e inserida no Parque Fluvial do Ticino.

Primeira cidade da Lombardia a ter aprovado em 2007 um plano de gestão do território (PGT) com zero de consumo de terras. “Você não pode fazer dinheiro com o território”, disse o ex-prefeito Domenico Finiguerra, defensor de uma longa batalha pela conservação da paisagem e pela economia local. Segundo ele, a política urbana contemporânea é orientada para captação de recursos financeiros a partir do capital privado.

Cidade em expansão, difusa, cidade decomposta

As administrações municipais tem sido levadas a vender partes do seu território ou emitir licenças para construir em troca dos encargos com infra-estrutura, causando danos (ou excluindo) áreas mais frágeis de forma irreversível, a primeira dessas as agrícolas. Nascem assim as cidades difusas, decompostas, com bordas irregulares que são muito difíceis de serem geridas. Nascidas em tempos de escassez, para alimentar Londres e Paris com os recursos provenientes dos núcleos rurais limítrofes, que por sua vez estão subordinados à política administrativa da capital, hoje o fenômeno da Cidade em expansão urbana, ou urban sprawl, se traduz em uma atitude prejudicial ao ambiente e à coletividade.

A escolha corajosa de Cassinetta Lugagnano

Por isso, a corajosa decisão da administração da Cassinetta Lugagnano e dos cidadãos que participaram dos primeiros estágios de uma gestão participativa são um exemplo significativo e previdente, com olhar para o futuro, de política pública e gestão territorial.  Apesar da proximidade com a capital da Lombardia e de fazer parte da mesma malha urbana, o município de Cassinetta optou por não entrar na órbita de Milão e nem expandir a sua área urbana com loteamentos longe do núcleo central. Em vez disso, fomenta a produção sustentável de alimentos, desenvolvendo uma economia local fortemente focada em agricultura.

A primeira meta? Educar para o consumo responsável

O objetivo mais importante foi alcançado pela administração: ser capaz de educar a população para um consumo responsável, de justa distribuição de recursos e para uma gestão adequada dos resíduos. Pode-se dizer que a batalha vencida por Domenico Finiguerra e sua junta foi travada a partir de dentro, informando e educando os cidadãos em ações concretas e imediatas.

Se em Cassinetta Lugagnano foi reconhecida a importância da relação entre a cidade e o campo, em cidades como Campione d’Italia, terceiro município mais cimentado da Italia, todo território do município é urbanizado. A escolha de Campione d’Italia, bastante discutível, de impermeabilizar 83,4 por cento do seu território (2010), destruindo completamente todo o parque agrícola adjacente à cidade, é um movimento que custou à qualidade de vida dos cidadãos mais do que a riqueza que uma Las Vegas italiana poderia trazer aos cofres municipais.

Recuperar os prédios abandonados

Voltando ao exemplo de Cassinetta, seu Plano de Gestão Territorial de crescimento zero, ou seja, não prevendo crescimento urbano, tem como objetivo manter o cinturão agrícola em torno da cidade, atualmente reconhecido como patrimônio da Unesco. Ao mesmo tempo, o aumento de 3,5 por cento previsto até 2015, relativo à demanda fisiológica de habitação devido à formação de novas famílias, está sendo atendida pela promoção da recuperação de edifícios abandonados e pela saturação das áreas mais urbanizadas. Não há consumo de terras agrícola com o aumento da população de Cassinetta.  Pelo contrário, ali são convertidas áreas de produção não compatíveis com o tecido circundante.

Em contraste com o que acontece na maioria dos municípios, Cassinetta Lugagnano foi capaz de responder à pressão dos grandes centros, encontrando no território sua própria identidade local. O organismo urbano é saudável quando a cidade está vivendo em harmonia com a paisagem circundante. Outros municípios poderiam reformular sua estratégia de planejamento urbano a partir do exemplo desta virtuosa pequena cidade na Lombardia.

(enviado por Yara Valverde)

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